NA PRÁTICA, A TEORIA É OUTRA.
Nesta nova normalidade em que a internet funciona como estrada aberta para a realização de negócios, há um caminho que parece estar a ser percorrido sem oposição: o de sentenciar, com o recurso a anglicanismos e a novas roupagens de fórmulas básicas e antigas, que os negócios e o sucesso só se obtêm se se está em força (€) no mundo do digital.
Isto faz parecer que quem não está nas redes sociais, quem não funciona com SEO, quem não pensa em cliques, quem não sabe o que é o Google AdWords ou o Link Building ou o Digital Marketing, é como se não existisse, e mais vale começar a encomendar a alma ao criador porque o espera um fim triste…).
Para não se ser enredado neste “argumentário” duma certa marketeirice mainstream menos competente e ética (e evitar complexos de ignorância e incapacidade lesivos para a auto-estima e motivação), é preciso descer ao básico:
- Como tudo o que nos permita estar em contacto com o cliente, a presença online pode e deve ser utilizada para dar mais corpo a uma marca (e ajudar ao seu sucesso comercial).
- No entanto, o Marketing Digital feito de grandes ferramentas e técnicas (e.g. SEO) é para as grandes/ enormes empresas do online, que gastam e vendem milhões no negócio, ou para os americanos, ou para os indivíduos que passam 24 horas por dia a cruzar links para fomentar tráfego que depois é convertido em publicidade paga.
Se na sua pequena-média empresa um computador é recurso e não o centro do modelo de negócio, e se lhe falam nos ganhos potenciais de investir nesta área, pense duas vezes.
Vai dedicar dinheiro a um retorno futuro que pode muito bem não compensar o esforço (a menos que queira começar a ter como tema corrente a compra de servidores, a compra de keywords, a contratação de equipas de programadores, a contratação de empresas externas para implementar estratégias de SEO e comprar as keywords mais baratas, etc., etc., etc. – ou seja, iniciando uma deriva para outro negócio bem diferente do que é o seu).
Existe outra abordagem à gestão da presença online, como podemos chamar-lhe.
Se se pretende vender produtos ou serviços online ou simplesmente utilizar a presença online para reforçar a marca, mas com recursos equilibrados com os resultados e com uma comunicação que orgulhe, pode optar-se por outro caminho.
Estes são exemplos de preocupações estratégicas a considerar:
- Escolher plataformas de comércio online adequadas (no caso da venda);
- Escolher canais de comunicação coerentes com a imagem de marca pretendida (selecionar redes sociais adequadas aos clientes-alvo, por exemplo);
- Gerar conteúdos realmente alinhados com o perfil e do interesse desses clientes-alvo (e gerá-los de forma contínua para que não nos procurem apenas nos momentos de compra) – por exemplo, se a empresa vende lentes de contacto e todo o foco estratégico do negócio reside na rapidez de entrega e no preço baixo, não faz sentido usar como conteúdos uns posts engraçados com ilusões de óptica e depois deixar a mensagem fulcral (preço, rapidez) de parte;
- No caso da venda online, trabalhar o modelo de negócio para assegurar (a montante) elevada conformidade na venda e nos serviços associados – para que o serviço pós-venda para resolução de falhas (mesmo que seja excelente) só se torne necessário de forma totalmente excepcional (é o “fazer bem à primeira“;
- Definir mecanismos destinados a fomentar uma relação próxima e constante com o cliente.
- Má comunicação (típica relação em que a empresa contratada é a única parte que se supõe perceber do assunto, e depois corre mal…).*
- Má estratégia (idem).
- Má tática (idem).
- Má execução (idem).
- Impaciência.
- Foco incorreto.
- Orçamento inadequado.
O “Portugal2020” fomenta a “economia digital”.
Este post pode gerar “reacções”… Que fique claro que só pretendo focar-me no aconselhamento de empresas para as quais o marketing digital de grande escala (grandes promessas e expetativas e investimento e esforço) não faz de facto nenhum sentido mas que podem, por ignorância (sim, isto existe e está no dicionário) e por pressão externa, achar que sim, que faz, e depois dar-se mal.
Empresa que contrata fornecedor externo para estratégia SEO com promessa de vendas superiores ao investimento; Gastou 10 com essa empresa externa; Teve vendas de 12; Para a empresa externa foi um ganho de 2; Para a empresa contratante foi um prejuízo enorme porque gastou 10 em SEO, mais 5 na compra dos produtos para vender, mais 2 de custos gerais, chegando enfim a vendas de 12 para um custo total de 17 = 5 de prejuízo.
Na sequência disto, a mesma empresa resolveu manter uma estratégia de SEO apenas com recursos internos, que monitoriza e que atualmente apresenta resultados positivos (lucro real).
A diferença é que numa estrutura que contava apenas com duas pessoas foi necessário passar para seis e fazer todo o trabalho internamente (são duas pessoas a tratar do negócio “original” e quatro a tratar de SEO – e não está errado, porque estão a ganhar dinheiro com isto).
Photo credit: nathangibbs / Foter / CC BY-NC-SA
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